True Moon

True Moon
Everyshit has it darkside

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O Barqueiro

A imagem é a de um barqueiro (Hades), segurando um cetro, ou uma vara com âmago divino, sobre um barco que aponta para o horizonte, numa planície de mar calma e que se vai ao longe, onde, no fundo, há um ciclone, de uma tempestade que não se aproxima, mas que permanece ali, como um caos nuclear, em oposição a planície constante da eternidade. Neste barco de madeira, há uma imagem de uma sereia, ou mulher, ou anima, ou feminino, preso na frente, como que esculpida na ponta do barco, sua imagem é viva, tem características muito próximas do orgânico, porém mantêm a puerilidade de uma escultura de madeira. Uma lágrima em seu olho esquerdo.

A mensagem é "Os homens  esculpiram a mulher de madeira com muito carinho. É como se ela tivesse alma... por isso seu retrato chora. Porém, o homem é tão voltado para sua arte quanto é para seus objetivos, suas casas e seus artefatos - que o permitem voar e velejar. Sua cultura guarda em cada ponta sua alma. O homem vestiu-se de negro, e identificou-se à morte, seu temor em relação ao fim é inigualável, e sua consciência sobre o inevitável delira em angústia, alucina deuses e imagens, quais lança sobre o mundo sob a luz do cetro de suas pequenas crenças."

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Sem A intenção de tornar Tudo uma Coisa só

Eu vejo os homens, vejo o que é chamado de ser humano, eu vejo isto... eu vejo isso que se autoproclama e afirmando, eu sou! E vejo sua luta incessante por sobrevivência. Em seu rosto a marca animal permanece, nas marcas da experiência que fazem da pele um painel de uma obra cara caricaturística, e no teatro se explora e deixa escorrer aquilo que se tem de viscoso dentro do músculo e da carne, aquilo que adormece latente e vermelho entre o vazio e a escultura, na bela aparência. Uma luta que herdou de seus antepassados animalescos, animália por definição da ciência natural que explora desde os minérios até as sintéticas reações fisiológicas, e animália por semelhança àquilo que anima, aquilo que está animado, aquilo sobre o que ferve algo da mesma constituição dos planetas, e que ainda reserva em seu sangue, mesmo que agora a explore - explore essa potência enfervecedora, esse calor incandescente -  de uma maneira simbólica e matemática. De que tipo de auto-preservação estamos falando quando vemos alguém impondo uma imagem própria constantemente numa rede social, estamos diante de uma máquina de produção de sentido para si. As redes sociais são um aparelho para produção de imagens para ‘eu’, a partr de onde se estiliza um eu, e a partir do qual passasse a crer em si. O si nascido da imagem criada de eu é uma mentira. O eu é uma ilusão alucinada diante da imperfeição natural do que somos. É imperioso a constatação minimamente teórica da ausência, para pensar-se daí o descolamento, a passagem, o depois, o agora, e o passado. Sem uma falta, não há movimento, não o que buscar, e não há espaço para o novo, assim como não haveria espaço reservado para o passado. A ilusão de completude sugere também uma ilusão de atemporalidade, de que não há divergências, de que o mundo não tem finalidades alguma, de que todo o sentido já foi apreendido, e a imagem ideal de eu é uma projeção dessa quimera. Vendem-se daí fantasias, e compram-se e deleitam-se mediante seus instintos mais primitivos, onde a racionalidade sequer alcança, onde o pensamento tenta apreender mas logo se perde, num reino de total intangibilidade, onde forças ferozes se encontram e agonizam, é ali que resolvemos crer e nos doar por completo, em toda a possibilidade de ser, as ilusões que nós próprios geramos, e que em nosso convívio tornamos convenções, como quem insiste, numa pulsão à repetição, de querer reviver sempre um momento antigo, re-alucinado todos os dias, em perseverações de lembranças escancaradas em perfis, em imagens de si cristalizadas, quais só falta grudarmos na testa (o que seria redundante, já que em qualquer profundidade, pensando na possível profundidade ao homem raso de hoje, carregamos como certo que somos isso que insistimos em acreditar ser) e sair por ai mostrando e implicando a partir de si mesmos, e imperando, e impondo à toda subjetividade, como se estivéssemos assegurados da verdadeira razão, razão que se justificaria no apoio que buscamos pelo reconhecimento dentro das próprias redes de conexão, e que se fortalece também por um apoio sempre coletivo, e nunca individual, e que assim permanece como um jargão, ou um slogan impresso ou escrito nas paredes da própria casa.