Puts, joguei o cigarro muito perto... Deslizo por entre a
brecha do carro e do portão. O cigarro está um centímetro depois da linha
imaginária do portão que separa lá fora daqui dentro da casa. Acho que ta tudo
bem... a bituca está lá fora. A fumaça termina de queimar na rua, no caos da
estrada, nas escolhas da grande cidade, do estado maior. As leis diferentes pra
cada lugar não tem mais a proteção dos ideais dessa única família que
defende-se com agudeza, que determina-se no perímetro dessa casa, que impera em
suas categorias uma ordem até que natural de seu próprio sistema abstrato.
O cachorro passa de cabeça baixa, vai até o lugar de sua
escolha onde o vento refresca seu corpo coberto de pelo que abafa a pele.
Parece uma ovelha. Ele olha como que pedindo licença pra poder refrescar-se na
água que o vento carrega em sua umidade.
Me aproximo e trocamos de lugar, eu sou esse cachorro. Sem perder a postura me
abaixo com a rigidez de um homem que faz de suas escolhas as melhores, que
tenta elaborar o maior plano de uma vida curta. Passo a mão em seu pelo e
olhando para o horizonte lá embaixo dessa montanha, mostro que a única lei que
não deve ser quebrada é a da igualdade, pois aqui então poderemos ser livres pro
refresco da brisa, e não há tormenta que não possamos enfrentar desde que
sejamos livres pra escolher o melhor. Que tipo de pessoa não escolheria amar? Ele
se afasta, o cão, e me ensina que o cheiro do cigarro atrapalha o fluxo dos
aromas naturais.. eu entendo mas não saio do lugar, estou aqui por motivos,
motivos que tento deflorar do longínquo horizonte que se abre mais uma vez em
minha solidão pedindo um novo nome, uma nova coisa, que ainda não é na grande
ausência do dualismo da alma.