True Moon

True Moon
Everyshit has it darkside

domingo, 24 de julho de 2016

cigarro e cão, natural e fumar, lei e amizade

Puts, joguei o cigarro muito perto... Deslizo por entre a brecha do carro e do portão. O cigarro está um centímetro depois da linha imaginária do portão que separa lá fora daqui dentro da casa. Acho que ta tudo bem... a bituca está lá fora. A fumaça termina de queimar na rua, no caos da estrada, nas escolhas da grande cidade, do estado maior. As leis diferentes pra cada lugar não tem mais a proteção dos ideais dessa única família que defende-se com agudeza, que determina-se no perímetro dessa casa, que impera em suas categorias uma ordem até que natural de seu próprio sistema abstrato.


O cachorro passa de cabeça baixa, vai até o lugar de sua escolha onde o vento refresca seu corpo coberto de pelo que abafa a pele. Parece uma ovelha. Ele olha como que pedindo licença pra poder refrescar-se na água que  o vento carrega em sua umidade. Me aproximo e trocamos de lugar, eu sou esse cachorro. Sem perder a postura me abaixo com a rigidez de um homem que faz de suas escolhas as melhores, que tenta elaborar o maior plano de uma vida curta. Passo a mão em seu pelo e olhando para o horizonte lá embaixo dessa montanha, mostro que a única lei que não deve ser quebrada é a da igualdade, pois aqui então poderemos ser livres pro refresco da brisa, e não há tormenta que não possamos enfrentar desde que sejamos livres pra escolher o melhor. Que tipo de pessoa não escolheria amar? Ele se afasta, o cão, e me ensina que o cheiro do cigarro atrapalha o fluxo dos aromas naturais.. eu entendo mas não saio do lugar, estou aqui por motivos, motivos que tento deflorar do longínquo horizonte que se abre mais uma vez em minha solidão pedindo um novo nome, uma nova coisa, que ainda não é na grande ausência do dualismo da alma. 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

o egoísmo é uma fuga de si mesmo

O egoísmo é o templo onde se alimenta do que insiste em assegurar como você mesmo.

A lógica do sistema do consumismo é individualista, pois obriga o sujeito a comprar a realização do seu desejo individual, obriga o sujeito a comprar e formular sua personalidade. Como alguém que escolhe a cor de onde vai morar, o modelo do que vai se locomover, e o formato daquilo onde vai aconchegar a bunda.

Nesse sistema falar sobre suas próprias experiências para os outros é algo no sentido de não estar ‘bem resolvido’, mesmo quando bem sabemos que em circunstância nenhuma se está totalmente satisfeito com qualquer modo de viver que se possa escolher. Até por isso se escolhe, pela diferença. A escolha é a afirmação da possibilidade, e a abertura da possibilidade é o vir a ser da ausência.
O remédio moderno é a saída do ponto crítico. O homem alienado à tudo isso que lhe dopa é também o homem feliz, isto é, submetido, à sombra de um objeto colorido. Este não respira e esgueira-se na vida, vive mitigando vícios e silenciado, o mundo para este está amortecido, formatado e muito bem correto já que, em sua ignorância arbitrária, tem o mesmo cheiro do seu halito, a mesma textura da sua pele, as cicatrizes de seu templo de corpo.

Você que fala sozinho, sofre calado a gosto de açúcar ou embriagado, e lá fora vagabundo que falam demais envergonham-se por sofrer. Pensam estes estarem cegos por não ver o amor, doentes de um vazio de alma, enquanto riem de canto de boca aqueles charlatões de muita riqueza que entenderam a piada. Superficial. Estes últimos que alimentam-se na fonte das convenções, estes que possuem a mente oca onde intermitentemente ecoam as diretrizes de um senhor qualquer, um aproximado do ouro de tolo, um grande enganador de fala mansa que os carrega à uma suposta luz em chamas, a preço de um sofrimento para qual teus sentidos estarão sempre fechados. Esse é o segredo do ‘vazio interior’: estar vazio mas não dizer do que. Enquanto passam fome três quartos.

A ignorância tem grande parte nisso tudo, pois ela é o ato de tornar inacessível a causa dos grandes problemas. A ignorância é a impossibilidade da resolução, e o surgimento do fato problemático. Enquanto se ignora que se tem demais enquanto alguns dormem nas ruas e passam frio e fome que tipo de consciência almeja-se? Uma que vê o rosto humano em farrapos e não reage... A ignorância é um mal para a sobrevivência, pois ignorar o sofrimento é sofrer calado e morrer aos miúdos.


Gritando em sua loucura solitária num coração desolado e sem força de vontade, implorando além do limite da carência, já prostrados na conduta do irreparável e do inaceitável, enlouquecendo mais uma vez no breve momento de sensatez que aceitara a evitação, como único caminho possível não só para suportar o cotidiano, mas também a si mesmo no paradoxo do infinito, no estar vivo sem razão, a verdadeira causa do insuportável que reside na eterna presente ausência de cada uma das coisas.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Poesia da reclamação

vc acredita
que
a editora
mandou uma resposta aos meus poemas
dizendo que eu deveria descobrir o que eles significam
pra poder dai fazer uma movimentação concreta
como se meus poemas escondessem possíveis rumos que eu não tomo
como se o fruto da minha escrita estivesse enraizado em uma espécie de doença, de algo a ser curado.. uma ferida aberta, um cancro
e não é que tudo isso está certo?
até agora não entendo porque não aceitaram publicar..
mundo estranho.. poesia boa é aquela que fala em nome do dinheiro
aquela que fala verde, que faz barulho de caixa
que compensa, que reverência os bons modos, que se escreve, que se estrutura de acordo com a norma. Poesia normatizada.
o tristeza pensar que só se deve ser livre de um jeito
que a arte tem um filtro, quase como um daqueles monóculos
que vê por cima do bigode, que parece segurar o peso da boa vida na bengala
puta que pariu.