O egoísmo é o templo onde se alimenta do que insiste em
assegurar como você mesmo.
A lógica do sistema do consumismo é individualista, pois
obriga o sujeito a comprar a realização do seu desejo individual, obriga o
sujeito a comprar e formular sua personalidade. Como alguém que escolhe a cor
de onde vai morar, o modelo do que vai se locomover, e o formato daquilo onde
vai aconchegar a bunda.
Nesse sistema falar sobre suas próprias experiências para os
outros é algo no sentido de não estar ‘bem resolvido’, mesmo quando bem sabemos
que em circunstância nenhuma se está totalmente satisfeito com qualquer modo de
viver que se possa escolher. Até por isso se escolhe, pela diferença. A escolha
é a afirmação da possibilidade, e a abertura da possibilidade é o vir a ser da
ausência.
O remédio moderno é a saída do ponto crítico. O homem
alienado à tudo isso que lhe dopa é também o homem feliz, isto é, submetido, à
sombra de um objeto colorido. Este não respira e esgueira-se na vida, vive
mitigando vícios e silenciado, o mundo para este está amortecido, formatado e
muito bem correto já que, em sua ignorância arbitrária, tem o mesmo cheiro do
seu halito, a mesma textura da sua pele, as cicatrizes de seu templo de corpo.
Você que fala sozinho, sofre calado a gosto de açúcar ou
embriagado, e lá fora vagabundo que falam demais envergonham-se por sofrer.
Pensam estes estarem cegos por não ver o amor, doentes de um vazio de alma,
enquanto riem de canto de boca aqueles charlatões de muita riqueza que
entenderam a piada. Superficial. Estes últimos que alimentam-se na fonte das
convenções, estes que possuem a mente oca onde intermitentemente ecoam as diretrizes
de um senhor qualquer, um aproximado do ouro de tolo, um grande enganador de
fala mansa que os carrega à uma suposta luz em chamas, a preço de um sofrimento
para qual teus sentidos estarão sempre fechados. Esse é o segredo do ‘vazio
interior’: estar vazio mas não dizer do que. Enquanto passam fome três quartos.
A ignorância tem grande parte nisso tudo, pois ela é o ato
de tornar inacessível a causa dos grandes problemas. A ignorância é a
impossibilidade da resolução, e o surgimento do fato problemático. Enquanto se
ignora que se tem demais enquanto alguns dormem nas ruas e passam frio e fome
que tipo de consciência almeja-se? Uma que vê o rosto humano em farrapos e não
reage... A ignorância é um mal para a sobrevivência, pois ignorar o sofrimento
é sofrer calado e morrer aos miúdos.
Gritando em sua loucura solitária num coração desolado e sem
força de vontade, implorando além do limite da carência, já prostrados na
conduta do irreparável e do inaceitável, enlouquecendo mais uma vez no breve
momento de sensatez que aceitara a evitação, como único caminho possível não só
para suportar o cotidiano, mas também a si mesmo no paradoxo do infinito, no
estar vivo sem razão, a verdadeira causa do insuportável que reside na eterna
presente ausência de cada uma das coisas.
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