I
Como a cidade é grande...
As palavras nas placas são tão diferentes de mim.
O que eu sou? De que matéria é feito meu ser, que
palavras descrevem o escuro do meu interior? Será que plaquinhas ou rótulos de
papel estão pendurados em meus órgãos?
Há um eco bem humorado falando comigo, meu grilo minha
consciência
Lembrando sempre que apesar da velocidade da roda, e do
banco do carona que me deixa boiando no tráfego, ainda insisto no mundo do
planeta terra.
Carro corre deslizando no asfalto rompendo a barreira do
vento depois do mundo onde sou apenas enquanto fazendo tudo que acredito
Acredito na casa, na porta, na tranca, no banco, no
plástico
E no vidro que, como a fala transparente, antes do agora
reflete a antiquada fabula da estória de eu.
Por isso não devo me desculpar pela culpa
Culpa imensurável de ser compelido
Compelido à aparentar e mentir nada mais nada menos
Que isso tudo num momento só
Onde só penso, falo, escrevo, sou
Um erro
Um erro acertado com uma dívida
Uma dívida desde o começo até o fim disso
Disso que não é só vida, ou não deveria ser
Ser algo inexplicável como alguém que não vejo
Como alguém que sou mas não sei quem é
Mas com quem discuto e escolho
Escolho pelo não mesmo
O mesmo que nega afirmando que sim
O sim que é eco na brevidade medida
Medida de um sonho na régua
Da existência já quase no fim
II
As ruas são longos lugares sem fim
Nelas não importa onde esteja
Nunca está
Pessoas indiferentes
Não são ninguém, pois ninguém os conhece
Um mar estranho, um cardume de gente
Sardinha de uma marca importada, no máximo.
Dentro de casa me fecho entre paredes e ligo a tv, pra
ver se escuto alguém
Mas não escuto nada
Não falam comigo
Nem com ninguém, eu suponho.
Culpo uma rotina mal pensada
Deito pra tentar imaginar algo diferente do nada
Mas nada e nada. Nada acontece
Da pra matar o tempo jogando
Conhecer gente que também não se conhece
Tentando tornar a vida uma vida
Nessa montanha no vale de nadas
Da vida normal num apartamento escroto e frio
Num prédio velho no centro de uma cidade onde ninguém
toma um chimarrão
Parece que aqui não tem ninguém
Parece que não pensam em nada, mas que bosta. Pra onde
foi a imaginação?
Todos os filmes e músicas são iguais, eu não vejo alguém
inventando
Quer saber, vou inventar
Mas logo vão perguntar por onde estou andando, e estranho
me olhando
Ñ sou do padrão nessas horas, na certa
Mas se na minha cara tivesse colado o selo da Disney
Eu seria um bom ator
Mas nunca tive dom pro teatro
Mas também foda-se se voc tem status.
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