Racionalizacao ou Problematização de coisas simples
Um fenômeno interessante e moderno, é o da esquiva de si
mesmo. O que isso quer dizer? Como isso pode ser visualizado? A resposta é,
quer dizer tanta coisa que facilmente pode ser banalizado, pois é parte da
tarefa das palavras e da racionalidade encobrir o si mesmo, e a interioridade,
e o contato com as sensações e as imagens internas. E pode ser visualizado a
qualquer momento, mas principalmente, e de modo extremo, quando a consciência
passa a criar tempestades em copo d’agua. Não existe consequência mais clara e
evidente dessa fuga da interioridade, da
reflexão pessoal, da compreensão daquilo que em nosso interior pede para ser
trabalhado, para ser integrado de alguma forma, do que a conscientização. Esta
ultima aparece como uma problematização extrema de qualquer coisa, e um
engrandecimento assim como uma identificação com questões da consciência. Até
comprar um pão na padaria torna-se problema nesses casos. Notamos, por exemplo,
que as conquistas proporcionadas pelos sistemas racionais ganham uma relevância
supervalorizada, ao passo que a contemplação, o ócio, e as nuanças da poesia,
da palavra, e da percepção do mundo – aspectos esses que possuem possibilidades
de interpretação e aprofundamento de conteúdos acessíveis apenas pela
sensibilidade, e um encontro interior – são negligenciadas. Um trabalho de
faculdade, que não passa de uma pesquisa rápida e sem muitas complexidades,
torna-se algo de tamanha complexidade, torna-se algo que demanda e obriga tal
disposição, ou dispêndio de energia, que tudo o mais torna-se banal, e o
próprio trabalho, que consistiria, vamos supor, em pesquisar dois ou três autores
sobre um tema específico. Isso, em ultima instância, nos mostra que a própria consciência
não dá conta de operar de acordo como é devido, ocupando seu dever de
posicionar, de refletir, de pensar. É como se ela estivesse sofrendo de um
sobrepeso, como se houvesse algo tentando invandi-la, algo que tornaria esse
despendio energético para mante-la em suas funções algo de duplicado, algo que
exigiria mais energia do que o normal. Nesses casos então, o valor extremado
entregue a questões que a simples racionalidade consciente resolveria, revela
algo que perturba a consciência e que de alguma forma quer surgir. Esse algo
inconsciente aparece daí em sonhos, ou no próprio discurso de maneira
disfarçada, por debaixo dos modos de dizer, das palavras mal escolhidas, ou dos
pensamentos recorrentes e sintomas.
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